Abstract
Quando o filósofo Yuk Hui (2020a) introduz o conceito de tecnodiversidade no universo das discussões acerca da tecnologia, ele abre caminho para entendermos esse termo e outros que o cercam – como a ideia de progresso – como sendo sempre “localizado”, ou seja, como fruto de nossas visões de mundo, imbricado nas condições materiais, sociais, históricas e políticas da produção do saber. O presente trabalho busca contribuir com essa discussão a partir de uma análise de “Frankenstein”, de Mary Shelley, como um exercício de crítica da ciência moderna ocidental, o qual surge justamente no momento de consolidação desse ideal de ciência no século XIX. O romance, ao revelar tensões fundamentais entre o desejo de conhecer e suas consequências, questiona as alianças da ciência com ideais igualmente situados de progresso e natureza, desafiando a visão tradicional da ciência como algo separado do humano e, assim, separado das Humanidades. A obra proporciona reflexões importantes sobre a construção de epistemologias que integram ciência e humanidades como igualmente produtos das culturas nas quais estão situadas; tanto as ciências quanto as humanidades estariam, portanto, igualmente enraizadas em seus contextos socio-históricos-políticos específicos. Dessa forma, ao examinarmos as páginas de “Frankenstein”, somos convidados a refletir sobre as implicações de nossos modos de conhecer e habitar o mundo, o que torna a literatura no geral e a ficção científica em específico ferramentas potentes para pensar as ciências, humanas ou não, e suas tecnologias.
Publisher
Revista Linguagem em Foco
Reference16 articles.
1. CRACIUN, A. Writing the Disaster: Franklin and Frankenstein. Nineteenth-Century Literature, v. 65, n. 4, p. 433–480, 2011. https://doi.org/10.1525/ncl.2011.65.4.433. Acceso em: 26 fev, 2024.
2. FRASER, N.; JAEGGI, R. Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica. São Paulo: Boitempo, 2020.
3. GUSTON, D. H.; FINN, E.; ROBERT, J. S. Editor’s preface. In: SHELLEY, M. W.; GUSTON, D. H.; FINN, E. ROBERT, J. S. Frankenstein: or, the modern Prometheus: annotated for scientists, engineers, and creators of all kinds. Cambridge, MA: The MIT Press, 2017. Disponivel em: https://direct.mit.edu/books/oa-monograph/3542/FrankensteinAnnotated-for-Scientists-Engineers-and. Acesso em: 26 fev, 2024. p. XI-XVIII.
4. HARAWAY, D. Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective. Feminist Studies, v. 14, n. 3, p. 575–599, 1988.
5. HUI, Y. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu editora. 2020a.