Abstract
Neste artigo foca-se um dos problemas discutidos no Filebo 33c-41a. Esse problema prende-se a) com o significado das noções de aisthesis, mneme, anamnesis, logismos e doxazein, b) com a especificidade das perspectivas sc. do tipo de apresentação que, em cada caso, corresponde a tais noções, c) com a relação entre essas diferentes perspectivas e, ainda, d) com a questão de saber como está constituída ou “montada” a nossa própria perspectiva sc. a apresentação que temos. Metodologicamente, tomamos o Filebo 33c-41a como uma espécie de desafio à compreensão habitual do “aparecimento” – dominada pela ideia de que este é algo constituído “em bloco” e de forma imediata, que se dá pura e simplesmente por “abrirmos os olhos” – e consideramos a compreensão alternativa que se desenha neste passo. Com efeito, resulta da nossa leitura do Filebo que o “aparecimento” tem, na verdade, um carácter composto e corresponde ao efeito acumulado de sucessivos passos de desvendamento que se ultrapassam e modificam uns aos outros. É esta multiplicidade de formas de aparecer irredutíveis umas às outras e separadas por saltos ou descontinuidades que justamente está em causa nas análises da aisthesis, da mneme, da anamnesis, do logismos e do doxazein (representado pela figura do escriba). Finalmente, tais análises acabam por vincar que toda a nossa apresentação radica no doxazein – de sorte que (para usar a imagem de 38e) as nossas aistheseis, as nossas mnemai, etc. são intrinsecamente relativas a esse “escriba” em nós, que, com a ajuda de um “pintor”, escreve continuamente o “livro” da nossa própria vida.
Subject
Philosophy,Religious studies,History,Archeology,Classics