Abstract
As pessoas que não tivessem a pele branca podiam integrar o clero secular da Igreja Católica Romana nas dioceses do império português? Este artigo visa responder a esta pergunta através de uma abordagem holística e de longa duração, cobrindo espaços do império português em África, Ásia, América e mundo atlântico, utilizando um olhar comparativo. Parto da hipótese de que as teses dominantes na historiagrafia nos últimos 50 anos, baseadas em interpretações de Charles Boxer, não são generalizáveis e não se aplicam de igual modo a todos os territórios do império entre os séculos XV e XVIII. Se Boxer não falha no essencial, constatando o reduzido contingente de clero secular não europeus, a questão é bem mais complexa e tem variáveis que ele não ponderou. Amparado na leitura cruzada de diversas fontes, algumas até ao presente escassamente consultadas para este efeito, demonstrar-se-á que, desde cedo, o estado clerical se abriu a pessoas não europeias, mas que esta via se tornou controversa e geradora de resistências variadas, ainda assim não impedindo que na América, em África e na Ásia houvesse populações originárias desses continentes que o integraram, por vezes assumindo posições relevantes.
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