Abstract
Introdução: Para o processo de decisão compartilhada é essencial que profissionais da saúde interpretem dados estatísticos das melhores evidências disponíveis para que essas informações possam ser comunicadas para seus pacientes. Nesse contexto, o letramento de risco é a capacidade de avaliar riscos e benefícios de determinada ação. Apesar da importância dessa habilidade, estudos têm mostrado que muitos profissionais e estudantes possuem dificuldade na compreensão de conceitos estatísticos e de probabilidade e, dessa forma, baixo letramento de risco. Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar o letramento de risco em estudantes de medicina e como isso impacta a capacidade de resolver um problema de cálculo de valor preditivo positivo de um exame de rastreamento. Métodos: Foram convidados estudantes do 4º, 5º e 6º anos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para responder a um questionário composto pelo Berlin Numeracy Test (BNT), instrumento validado para a mensuração de numeracia, e um problema clínico sobre cálculo de valor preditivo positivo (VPP) em rastreamento de câncer de mama com mamografia. Avaliar qual o grau de letramento de risco em estudantes de medicina e verificar se existe associação entre o número de acertos no BNT e a capacidade de resolução do cenário clínico sobre VPP. Resultados: Obtivemos 97 respostas, em que 19 (19,52%) participantes acertaram 3 das 4 questões do BNT, e 61 (62,89%) acertaram todas as questões. Já na pergunta sobre VPP do rastreamento de câncer de mama houve 43 respostas corretas (44,33%). A média de pontuação no BNT da amostra de participantes foi de 3,41. Entre os estudantes que acertaram o cálculo do VPP, a média foi 3,67 e, entre os que erraram, foi de 3,21. Conclusões: Apesar da numeracia alta medida pelo BNT, os estudantes apresentam baixa taxa de acerto no caso clínico. Este estudo reforça os achados prévios de que o letramento de risco é uma habilidade difícil de ser aprendida, mesmo em pessoas com alta numeracia. Entretanto, o baixo número de respostas dificulta a interpretação mais precisa dos resultados.
Publisher
Sociedade Brasileira de Medicina de Familia e Comunidade (SBMFC)
Reference29 articles.
1. Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman TR. O terceiro componente: elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas. In: Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3. ed. ARTMED; 2017. p. 146-86.
2. Montori VM, Elwyn G, Devereaux P, Strauss SE, Haynes RB, Guyatt G. Decision Making and the Patient. In: Users’ guides to the medical literature. 3. ed. New York: McGraw-Hill Medical; 2015. p. 389-415.
3. Wegwarth O, Gigerenzer G. The barrier to informed choice in cancer screening: statistical illiteracy in physicians and patients. Recent Results Cancer Res 2018:210:207-221. https://doi.org/10.1007/978-3-319-64310-6_13
4. Soto-Mota A, Carrillo Maravilla E, Fragoso JM, Castejón A, González Herrero A, Ponce S. Evaluation of statistical illiteracy in Latin American clinicians and the piloting evaluation of a short course across multiple timepoints. BMC Med Educ 2022;22(1):54. https://doi.org/10.1186/s12909-022-03128-w
5. Friederichs H, Birkenstein R, Becker JC, Marschall B, Weissenstein A. Risk literacy assessment of general practitioners and medical students using the Berlin Numeracy Test. BMC Fam Pract 2020;21(1):143. https://doi.org/10.1186/s12875-020-01214-w