Abstract
O compositor e dramaturgo Richard Wagner (1813-1883) empreendeu um gigantesco projeto de recepção da dramaturgia no teatro grego antigo. Tomando por base o espaço cênico em que as peças de Ésquilo, Sófocles e Eurípides apresentaram em seus textos, Wagner propõe a transferência das funções do coro na orquestra para a orquestra como um coro. Em sua descrição dessa transferência no livro Opera e Drama de 1851, Wagner qualifica a orquestra de músicos como um corpo articulado com falas e gestos.
Neste artigo, será apresentada a analisada essa proposta de Wagner, para qual o conceito de orquestra-coro-gesto pode clarificar procedimentos de recepção da dramaturgia ateniense antiga. Como estamos diante de uma tradição descontínua, fragmentária, soluções criativas na recepção não se reduzem ao seu contexto imediato de encenação. No caso de Wagner isso é mais evidente: houve por parte do dramaturgo musical alemão a intensa produção de ensaios e reflexões, principalmente em torno do projeto do Anel do Nibelungo. Desse modo, as decisões criativas propostas por Wagner dialogam com uma mediação histórica que ao mesmo interpela os dados parciais da tradição e os redefine em nova abordagem de encenação.
Publisher
Universidad Nacional de La Plata
Reference24 articles.
1. Barzini, L. (2021). Mystery Cults, Theatre and Athenian Politics: A Reading of Euripides' Bacchae and Aristophanes' Frogs. London: Bloombury Academics.
2. Burkert, W. (2001). A criação do sagrado: vestígios biológicos nas antigas religiões. Lisboa: Edições 70.
3. Dreyfus, L. (2013). Sunk in the ‘Mystic Abyss’: The ‘Choral’ Orchestra in Wagner’s Music Dramas. En J. Billings, F. Budelmann & F. Macintosh (Eds.), Choruses, Ancient and Modern (pp.225-242). Oxford: Oxford University Press.
4. Eggers, K. & Müller-Linderberg, R. (2017). Richard Wagner. Musikalische Gestik - gestische Musik. Würzburg: Königshausen & Neumann.
5. Evans, M. (1982). Wagner and Aeschylus: The Ring and the Oresteia. London: Faber and Faber.