Abstract
No Nordeste Paraense, a redução da biodiversidade em ecossistema de várzea, provocada pelas práticas de manejo intensivo do açaí, gera consequências socioambientais diversas. Algumas organizações sociais envolvidas no circuito de comercialização do açaí, alegando a importância de reverter essa situação, vêm construindo junto aos seus associados práticas e discursos apresentados como mais sustentáveis. Tendo em vista a complexidade dessas construções, o objetivo desse trabalho foi verificar dissonâncias e consonâncias entre discursos e práticas referentes à sustentabilidade socioambiental, propagadas por lideranças dessas organizações sociais e agricultores ribeirinhos, envolvidos na comercialização de açaí da Ilha Guajará de Baixo, em Cametá-PA. Para esse fim, entrevistas semiestruturadas foram direcionadas a três agricultores ribeirinhos vinculados a associações locais e dezesseis não-associados, bem como a dois representantes de dispositivos coletivos atuantes na organização e comercialização do açaí agroextrativista. As entrevistas foram gravadas e transcritas e o uso do Software Iramuteq foi mobilizado com o intuito de facilitar a análise do discurso desses interlocutores. As contribuições teóricas da Perspectiva Orientada ao Ator e suas pedras angulares fundamentaram as análises. Os resultados obtidos relevam que, se por um lado, o estímulo à configuração da sustentabilidade por parte dos dispositivos coletivos leva a práticas de manejo dos açaizais mais preocupadas com o uso devido do meio biofísico pelos agricultores ribeirinhos associados a tais dispositivos, por outro lado, as pressões dos mercados por altas produções vêm desencadeando estratégias de comercialização dissociadas do discurso de sustentabilidade criado por esses atores sociais.
Publisher
Universidade Federal do Parana
Subject
General Environmental Science,Geography, Planning and Development