Abstract
Este artigo tem por base a experiência de implementação de um projeto de inclusão pela arte — A Meu Ver — por uma estrutura artística profissional da área do teatro da cidade de Coimbra: O Teatrão. Trata-se de um projeto de formação e prática teatral de pessoas cegas ou com baixa visão, com uma duração de três anos, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação La Caixa, no âmbito do programa Partis & Art for Change. Este projeto agrega uma vertente de formação a uma vertente de intervenção no espaço cultural da cidade de Coimbra. O objetivo foi analisar e reequacionar os possíveis papéis da educação artística na mediação cultural, entendida como modelo de intervenção, entre a entidade O Teatrão e um grupo de pessoas com deficiência, tradicionalmente mais afastadas dos circuitos artísticos. A presente investigação privilegiou uma abordagem qualitativa, realizando um estudo de caso, de carácter exploratório, que decorreu entre outubro de 2021 e agosto de 2022. Os dados aqui reportados foram coletados através de quatro técnicas de recolha de dados: observação participante, inquérito por questionário, entrevistas semiestruturadas e grupo focal. Ao visibilizar a importância da experiência de criação artística na recomposição identitária das pessoas com deficiência, o projeto estimula a desconstrução de conceções da deficiência alicerçadas no modelo individual e fomenta uma conceção social da deficiência. O A Meu Ver, ao juntar pessoas com deficiência visual e profissionais do Teatrão, demonstra que os problemas das pessoas com deficiência não derivam das suas incapacidades, mas sim das formas de organização social e da cultura dominantes. Esta desconstrução permitiu-nos analisar os impactos individuais do projeto para os seus participantes diretos e evidenciar formatos de mediação cultural possíveis para o desenvolvimento de projetos com esta abordagem no setor cultural.
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