Author:
Costa Alves Joana,Morais Sofia,Ferreira de Macedo António
Abstract
Introdução: As perturbações do neurodesenvolvimento são caracterizadas pelo atraso ou alteração na aquisição de capacidades em vários domínios do desenvolvimento: motor, social, de linguagem e cognitivo. Deste modo, estas perturbações podem manifestar-se desde a infância até à vida adulta, exigindo a continuidade dos cuidados de saúde. Contudo, vários estudos mostram que existem limitações de acesso dos adultos aos cuidados de saúde nesta área clínica.Métodos: Foi realizado um estudo observacional descritivo transversal através da aplicação de um questionário anónimo a médicos de Psiquiatria, a nível nacional, no período compreendido entre 6 de outubro e 6 de dezembro de 2020.Resultados: Foram recolhidos dados de 83 médicos de Psiquiatria (43 internos de especialidade e 40 especialistas). A nível nacional, apenas 16,9% dos serviços de Psiquiatria tinham uma consulta diferenciada de neurodesenvolvimento. Os médicos respondentes reportaram ter observado poucos doentes com perturbações do neurodesenvolvimento: 72,3% observaram um ou nenhum por semana. Dos médicos que referiram ter consulta de neurodesenvolvimento no seu serviço, a maioria (64,3%) não dispunha de equipa multidisciplinar. A transição destes doentes da consulta de Pediatria do Neurodesenvolvimento/Pedopsiquiatria para a de Psiquiatria ocorria em 51,8% por transferência regular intra-hospitalar, contudo em apenas 15,7% ocorria através de protocolo específico ou com a realização de consulta de transição. Por fim, 88% dos médicos de Psiquiatria consideraram ser pertinente a existência de uma consulta de perturbações do neurodesenvolvimento no adulto e relataram não possuir formação especializada na área do neurodesenvolvimento.Conclusão: Este estudo possibilitou enumerar alguns obstáculos para que os doentes com perturbações do neurodesenvolvimento usufruam de uma transição de cuidados de saúde para a vida adulta favorável: carência de conhecimento na área, necessidade de melhor comunicação entre serviços, falta de protocolos específicos, escassez de equipas multidisciplinares e assimetria na distribuição de cuidados de saúde diferenciados.
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