Abstract
Este estudo explora a relação entre as concepções de espaço, tempo e causalidade na filosofia de Immanuel Kant, apresentadas na Crítica da razão pura, e suas reinterpretações por Friedrich Nietzsche, com foco no período entre o início da década de 1870 e a publicação de Humano, demasiado humano (1878), incluindo avaliações de trechos do segundo volume dessa obra. Para Kant, espaço e tempo são formas a priori da sensibilidade, moldando a percepção do sujeito independentemente da experiência. A causalidade, por sua vez, é uma categoria do entendimento, um conceito puro utilizado para ordenar os fenômenos em relações de causa e efeito, seguindo as leis da natureza. Em um primeiro momento, Nietzsche reinterpreta as ideias de Kant à luz da filosofia de Schopenhauer, mas dá lugar a uma compreensão que seguirá, em parte, as tendências naturalistas da época. Essa evolução se manifesta em suas obras e fragmentos póstumos. Em O nascimento da tragédia (1872), influenciado por Schopenhauer, Nietzsche ainda mantém elementos epistemológicos subjugados por uma metafísica da Vontade e seus desdobramentos relativos às suas reflexões sobre a tragédia. Já em Verdade e mentira em sentido extramoral (1873), críticas à linguagem e à verdade abrem caminho para o abandono de uma epistemologia atrelada, em algum grau, a uma metafísica e aos a priori epistemológicos kantianos. Por fim, em Humano, demasiado humano (1878), com posições próprias mais contundentes, uma progressiva descoberta e adesão a certas posições do naturalismo contribui para que o autor do livro trabalhe para rechaçar qualquer resquício de metafísica e dos a priori epistêmicos em suas considerações a respeito do conhecimento.
Publisher
Universidade Federal do Espirito Santo
Reference40 articles.
1. ALLAIS, L. Manifest reality: Kant's idealism and his realism. Oxford: Oxford University Press, 2015.
2. ALLISON, H. E. Kant’s Transcendental Deduction: an analytical-historical commentary. Oxford: Oxford University Press, 2015.
3. ALLISON, H. E. Kant’s transcendental idealism: an interpretation and defense. New Haven: Yale University Press, 1983.
4. ALLISON, H. E. “Where have all the categories gone? Reflections on Longuenesse’s reading of Kant's Transcendental Deduction: Kant and the capacity to judge”. Inquiry, n. 43, p. 67-80, 2000.
5. BARBOZA, J. Schopenhauer. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.