Abstract
O futuro perfeito ou composto do indicativo é tradicionalmente descrito como um tempo que indica anterioridade no futuro, tendo por ponto de referência um outro tempo também futuro. Outro valor referido pelas descrições tradicionais é o modal de conjetura ou incerteza. Atualmente, o tempo usa-se escassamente com valor temporal e emprega-se, sobretudo, com valores modais, nomeadamente enquanto mediativo, no discurso jornalístico, no género notícia, com valor evidencial: a fonte de conhecimento não é o locutor, que o recebeu de uma outra origem. Por contraposição com outras línguas românicas, o futuro perfeito tem um valor reportativo e, em português europeu, não é o condicional o tempo que mais serve para indicar uma fonte de informação reportada. O principal e mais frequente valor atual, de reportativo, decorre, muito provavelmente, do valor modal epistémico. Por indicar que uma proposição refere factos acontecidos (o que decorre do seu valor aspetual perfetivo), mas não a assumir como necessariamente verdadeira, este tempo configura usos discursivos em que um locutor reporta enunciados sobre certos factos, mas sem se responsabilizar pela respetiva validação.