Abstract
Ocupando o duplo papel de veículo disseminador de males e de virtuoso ingrediente para a cura de doenças, as águas foram amplamente tematizadas pela bibliografia médica, cirúrgica e farmacêutica através do tempo. Em tratados, observações e avisos, as referências sobre os benefícios das águas ou os cuidados a se ter em sua identificação e uso se fizeram recorrentes. No Portugal do século XVIII, o escrutínio das propriedades de um “tipo” específico de água – aquele definido como termal, medicinal ou mineral – passa a ser feito, também, a partir das lentes da emergente ciência química, de modo que interpretações “mágicas” sobre sua composição são cada vez mais postas em xeque. Nessa esteira, um espaço específico do reino luso, nomeado justamente a partir de suas fontes e do benefício régio, as Caldas da Rainha, recebe especial atenção de uma série de letrados, dando corpo a uma significativa literatura sobre o tópico. Aqui, de modo a tornar esse rico conjunto sistematizado, apresento, além de um breve mapeamento e discussão dos principais contornos da temática, a edição anotada e ortograficamente atualizada de capítulos selecionados de um livreto, anônimo e pouco conhecido, que apesar de ter sido escrito por um empírico – ou, como se intitula, “um curioso” –, dialoga e confronta doutores, boticários e enfermeiros da época, o Observaçoens das agoas das Caldas da Rainha, de 1752.
Publisher
Sociedade Brasileira de Historia da Ciencia
Reference61 articles.
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2. ANÓNIMO. Observaçoens das agoas das Caldas da Rainha oferecidas a todos os enfermos pobres, que necesitão deste milagrozo remedio, para cura de seus achaques: por hum curiozo, que ha vinte anos, que vive a beneficio das ditas agoas. Paris [Lisboa]: Officina de Jacob Vicent, 1752.
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