Abstract
Objetivo: discutir a utilização do discurso heroico, amplamente disseminado pela mídia durante a pandemia de COVID-19, como referência aos profissionais de enfermagem atuantes na crise sanitária. Metodologia: partiu-se da análise temática qualitativa de matérias jornalísticas publicadas em um portal online de notícias com abrangência nacional, entre março e julho de 2020, e da utilização do conceito de interseccionalidade como categoria analítica, com perspectiva decolonial. Resultados: constatou-se que, articulados à linguagem militar e à política de morte do atual governo brasileiro, essas construções colaboram para o enfraquecimento e invisibilidade da categoria profissional. Conclusão: existem graves problemas associados a essa construção narrativa, uma vez que além de contribuir para a desvalorização e silenciamento da profissão e de seus profissionais, desvirtua discussões críticas sobre questões estruturais enfrentadas por esses últimos. Argumenta-se, ainda, a importância da politização dos profissionais de enfermagem, visto sua frágil formação política, a fim de construírem outras narrativas que consolidem o cuidado de enfermagem como um cuidado político, democrático e consciente de sua inserção no atual contexto da crescente precarização do trabalho no país.
Publisher
Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitario
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