Affiliation:
1. Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Abstract
Narrativas coloniais que tratam da presença de cachorros europeus nos encontros entre índios e brancos nas Américas frequentemente retratam o papel instrumental desses animais como armas terríveis. Para os colonizadores, assim, cachorros foram eficazes ferramentas de submissão dos povos nativos que encontraram a partir do século XV. No entanto, analisar com atenção as narrativas indígenas de muitos desses primeiros encontros pode mostrar perspectivas distintas, que apresentam cães não apenas como instrumentos de conquista, mas também como agentes, atuando sobretudo como facilitadores do contato entre indígenas e não indígenas. Este artigo explora histórias sobre os primeiros cachorros conhecidos por duas populações nativas no estado de Rondônia (Brasil), com o objetivo de sugerir a agência canina nos encontros interétnicos. Argumenta-se, então, que os primeiros contatos entre indígenas e brancos são eventos que não incluem apenas dois grupos de humanos, posto que as ações dos cachorros têm papel crucial no desenvolvimento das interações humanas. Desse modo, encontros interétnicos podem ser também encontros multiespecíficos.
Reference104 articles.
1. Pacificando o branco: cosmologias do contato no norte-amazônico;ALBERT Bruce,2002
2. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul;ALENCASTRO Luiz Felipe de,2000
3. The animals of Spain: an introduction to imperial perceptions and human interactions with other animals, 1492-1826;ALVES Abel,2011
4. El mundo de los perros y la literatura (condición humana y condición animal);ANDRADE Megumi,2014
5. A dog’s life among the Teenek Indians (Mexico): animal participation in the classification of self and other”;ARIEL DE VIDAS Anath;The Journal of the Royal Anthropological Institute,2002