Affiliation:
1. Universidade Federal do Oeste do Pará, Brasil
Abstract
Resumo Em busca de tratamento para doenças resultantes de acometimento por espíritos, os Karajá, povo indígena centro-brasileiro, recorrem hoje, além de seus próprios xamãs, a xamãs de outras etnias e curandeiros regionais, bem como a sua fé em Deus. E todos esses curadores, a despeito de seus diferentes conhecimentos e técnicas, são considerados igualmente xamãs. Os médicos não indígenas, em contraste, não podem curar esses adoecimentos, e a esses especialistas só se recorre para tratar as ‘doenças de branco’. A diferença marcada entre doenças e especialistas, no último caso, contrasta com o regime de comunicação absoluta no primeiro. É a essa diferença que o artigo se dedica. Dialogando com a antropologia da saúde, por um lado, e com a questão da religião, por outro, proponho que o que permite que curadores de origens diversas tratem pessoas enfeitiçadas, diferentemente dos médicos, é o fato de que o xamanismo atualiza o regime de diferença infinita, ou de transparência absoluta, dos tempos primordiais.
Reference44 articles.
1. Cuidando e tomando cuidado. Avizinhando-se de situações de “suicídio” em comunidades hupd’äh;Achatz R. W,2022
2. Práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro: discutindo políticas públicas e intermedicalidade;Andrade J. T;Anuário Antropológico,2016
3. Negociando curas: um estudo das relações entre profissionais de saúde não-indígena e indígenas no Projeto Xingu;Assumpção K,2014
4. Apapaatai: rituais de máscaras do Alto Xingu;Barcelos Neto A,2008
5. Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro;Barreto J. P. L,2021