Affiliation:
1. Ministério Público Federal, Brasil; Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Brazil
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brazil
3. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Brazil
4. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Brazil; Universidade de Santa Cruz do Sul, Brazil
Abstract
No Brasil, crianças intersexo ainda são submetidas a procedimentos para designação de sexo binário no nascimento e a intervenções corporais subsequentes. A Resolução nº 1.664/2003, do Conselho Federal de Medicina, legitima intervenções sobre as corporalidades intersexo, se constituindo como o único instrumento normativo nacional que trata sobre o tema. No entanto, as demandas advindas do ativismo político internacional intersexo vêm expondo o quanto as intervenções precoces na infância para a designação de um sexo binário mutilam os corpos das crianças e violam uma série de direitos humanos. Esta pesquisa visa identificar como os procedimentos precoces, irreversíveis e normalizadores, realizados sem o consentimento da pessoa intersexo, revelam-se violadores de direitos humanos. Sob as lentes do conceito de (in)justiça epistêmica, partimos das disputas em torno da produção de evidências que embasam as práticas médicas. Demonstramos como esses procedimentos violam os direitos humanos à saúde, à integridade corporal e à autonomia e os direitos sexuais e reprodutivos, e analisamos quais têm sido as estratégias para evitar essas violações. Propomos que pessoas intersexo estejam no centro das decisões sobre o próprio corpo e que sejam debatidos, junto a pacientes e familiares, caminhos não cirúrgicos e proibidas intervenções precoces, invasivas, mutilatórias, prejudiciais, cosméticas e não consentidas nos corpos de crianças intersexo. A proposição de mudanças em instrumentos norteadores que deixem de regular esses corpos é necessária para, a partir de uma perspectiva interdisciplinar, incluir instâncias bioéticas e de direitos humanos, assim como pessoas do ativismo político intersexo.
Subject
Public Health, Environmental and Occupational Health
Reference66 articles.
1. Resolução nº 1.664, de 13 de maio de 2003. Define as normas técnicas necessárias para o tratamento de pacientes portadores de anomalias de diferenciação sexual.;Diário Oficial da União,2003
2. Nascidos livres e iguais: orientação sexual e identidade de gênero no regime internacional de direitos humanos.,2019
3. Interdicciones: escrituras de la intersexualidad en castellano.;Cabral M,2009
4. Intersex human rights, sexual orientation, gender identity, sex characteristics and the Yogyakarta principles plus 10.;Carpenter M;Cult Health Sex,2021
5. Intersexo: aspectos jurídicos, internacionais, trabalhistas, registrais, médicos, psicológicos, sociais, culturais.;Vieira AM,2018