Abstract
Este artigo explora as formas de interação social em espaços públicos da cidade de Maceió, em Alagoas, especificamente no bairro periférico da Levada, cuja população se formou a partir da passagem do século XIX para o século XX, por ex-escravizados, remanescentes africanos, homens e mulheres livres e pobres. Diante das dinâmicas cotidianas relacionadas ao trabalho e ao entretenimento, podemos pensá-lo como um verdadeiro cenário étnico. Procuramos explorar as formas de sociabilidades verificadas nas áreas públicas do bairro, sobretudo as sociabilidades das celebrações religiosas, espaço privilegiado para observação dos costumes e normas de comportamento público. Destacamos duas situações celebrativas: a festa de São Benedito e as homenagens à Santa Bárbara. Essas festas, realizadas pelas casas religiosas de matrizes africanas, atraiam muitas pessoas, tanto do bairro como de outras localidades. Elas ganhavam maior visibilidade quando organizadas por Chico Foguinho, liderança religiosa do bairro. Nas notícias jornalísticas, as festas eram frequentemente relatadas como fatos trágicos, anedóticos ou como denúncias feitas por vizinhos insatisfeitos. A interpretação se deu sobre matérias de jornais da época, particularmente o Jornal de Alagoas, principal órgão oposicionista, além das crônicas locais daquele período. Este artigo deriva da pesquisa de doutorado, iniciado nos anos 2000, cujo objetivo foi investigar a perseguição contra as casas de culto religioso, conhecidas, à época, como xangôs. A conclusão, conforme já verificada na tese (Rafael, 2004), é que a presença da população negra de Maceió sempre foi obliterada, não apenas por parte da imprensa, mas, sobretudo nos trabalhos de cunho acadêmico de períodos mais recentes.
Publisher
CAOS Revista Eletronica de Ciencias Sociais
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