Abstract
O presente artigo consiste em um estudo de caso, a partir das Geórgicas, com o objetivo central de explorar como o texto de Virgílio, lido a partir de uma perspectiva em que a linguagem poética constrói discursos e não reflete o real, traz à tona significados dissonantes que ainda podem contribuir para outras leituras sobre as intricadas relações entre economia, cultura e sociedade. Não visamos, com essa escolha, um entendimento da economia como relações de mercado, mas como relações que envolvem conceitos de produção, de ética de trabalho que permitem que percebamos o campo como um lugar de conflito e disputa de saberes e modos de vida. Para tanto, além de apresentar um breve resumo do autor e da obra, optamos por analisar as reflexões sobre posse de terra e pobreza e explorar com carregam o comportamento dos agricultores e as contradições inerentes a ele. Discutir aspectos da condição social e financeira desse agricultor descrito pelas Geórgicas, mesmo sabendo que ele não seja necessariamente um personagem real e palpável, implica em refletir sobre as leituras de Virgílio acerca do acúmulo de posses e a participação política, temas fundamentais para uma percepção menos normativa da sociedade romana.