Affiliation:
1. Reumatologista assistente das disciplinas de Reumatologia e Ortopedia. Responsável pelos Ambulatórios de Cuidados Perioperatórios dos Pacientes Reumatológicos (Pré-operatório e Pós-operatório) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Abstract
Pacientes com doenças reumáticas sistêmicas geralmente estão em uso de uma ou mais medicações, com intuito de alterar a função do sistema imunológico ou suprimir o processo inflamatório e, assim, controlar a atividade da doença subjacente. Com o surgimento dos agentes imunobiológicos nos últimos anos, houve uma ampliação do arsenal terapêutico no manuseio desses pacientes, para garantir uma melhor eficácia no controle da doença e retardo na progressão radiológica. Entretanto, eles também aumentam o grau da imunossupressão e a chance de complicações infecciosas.
Apesar desse avanço na terapêutica, alguns pacientes com doença mais avançada e grave, refratários e/ou que não receberam um tratamento adequado no início da doença acabam necessitando de tratamento cirúrgico por conta do dano estrutural acumulado. A intenção desse tipo de abordagem é de restaurar a mobilidade articular e melhorar a qualidade de vida. Tais procedimentos incluem artroscopias, sinovectomias, artrodeses, reparos tendíneos e próteses articulares.
Os agentes biológicos agem inibindo citocinas inflamatórias (como TNF alfa, IL-1, IL-6), bloqueando a coestimulação celular ou reduzindo a produção de anticorpos (imunoglobulinas), tendo como resultado final a redução do processo inflamatório causado pela doença reumatológica (Tabela 1). É importante, porém, ressaltar que a inflamação é um processo fundamental para que ocorra a cicatrização normal da ferida operatória, e também a resposta do sistema imunológico para proteção contra infecções por patógenos no sítio cirúrgico1 (Tabela 2) (Figura 1).
Apesar das inúmeras evidências do benefício do tratamento com agentes biológicos, é descrito que esta classe de medicações tende a aumentar o risco infeccioso em geral. Existem relatos descrevendo aumento nas taxas de infecção pós-operatória e retardo na cicatrização da ferida operatória nos pacientes em uso dessas medicações. Além disso, sabe-se que a própria artrite reumatoide (AR) é um fator de risco para infecção pós-operatória em artroplastias, quando comparada aos pacientes com osteoartrite, com risco estimado 2,6 vezes maior. Esses dados fazem com que seja necessária uma atenção especial aos pacientes durante o uso dos agentes biológicos, incluindo também os períodos pré e pós-cirúrgicos.
O manejo desses pacientes no período perioperatório, considerado um cenário especial, torna-se um desafio para o reumatologista. Por um lado, existe o risco infeccioso já descrito. Por outro lado, a suspensão das medicações imunossupressora pode levar a flare da doença reumática, influenciando na recuperação desses pacientes no pós-operatório, até mesmo pela dificuldade de conseguir uma reabilitação adequada.
Publisher
Revista Paulista de Reumatologia