Abstract
Quando o objetivo único de médicos e autoridades é desenvolver a ciência sem levar em conta os seres humanos, todos os caminhos ficam abertos para qualquer deformação, todas as regressões e degradações da desumanização tornam-se possíveis. E foi essa a realidade que Ludwik Fleck, judeu, médico, pesquisador e prisioneiro, se deparou nos campos de Auschwitz (Polônia) e Buchenwald (Alemanha). Ele foi detido sob pena de morte e assim obrigado a servir como “especialista” dos “cientistas” nazistas em pesquisas para o desenvolvimento e fabricação de vacina contra o tifo exantemático. No bloco 10 de Auschwitz, ele presenciou experimentos de esterilização em prisioneiras sob a chefia do Dr. Clauberg. Em Buchenwald, Fleck trabalhou no centro experimental de tifo exantemático, no bloco 46, na fabricação de vacinas. O meio científico já conhecia diversas vacinas eficientes, mas os experimentos com cobaias humanas foram levados adiante... Hoje, de um modo geral, admite-se que todas essas experiências feitas com prisioneiros não levaram a nenhuma descoberta. Essa vivência como prisioneiro/pesquisador de Fleck pode ser caracterizada pelo termo cunhado por Primo Levi, “zona cinzenta” e no presente artigo pretendo discutir a questão do privilégio nos campos de concentração e a “ciência” desenvolvida nesse ambiente de terror.
Publisher
Universidade Federal de Minas Gerais - Pro-Reitoria de Pesquisa