Depressão e doenças cardiovasculares: dos mecanismos de associação às evidências sobre prognóstico e tratamento

Abstract

Introdução: A depressão atua como fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Objetivo: Demonstrar a associação entre depressão e cardiopatias, ressaltando-se os aspectos biológicos e sociais envolvidos, com a finalidade de estimular o rastreamento de ambas as condições em pacientes com fatores de risco. Método: Busca reversa de estudos encontrados nos últimos 20 anos, após análise minuciosa de resumos e de artigos. Resultado: A depressão é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e está associada ao aumento de mortalidade, sendo mais expressivo quanto mais grave for a depressão. Essa associação não decorre somente das dificuldades ao indivíduo que podem ser causadas pelo transtorno depressivo, como a redução do autocuidado e baixa adesão a tratamentos clínicos. Há vias biológicas associando depressão e cardiopatias que não foram totalmente elucidadas. Como exemplo, a elevação de marcadores inflamatórios sanguíneos decorrentes da depressão, a variabilidade da frequência cardíaca, o aumento da estimulação do sistema nervoso simpático em detrimento do parassimpático, o estado pró-trombótico e alguns autores até propõem que esteja associado a alterações no fluxo sanguíneo cerebral. A depressão após um Infarto Agudo do Miocárdio aumenta o risco de desenvolvimento de novos eventos cardiovasculares em até um ano após o episódio. Em idosos, a depressão pode aumentar a incidência de hipertensão arterial sistêmica e, além disso, idosos com insuficiência cardíaca frequentemente desenvolvem sintomas de depressão maior. Conclusão: Não se provou que o tratamento da depressão possa reduzir o risco cardiovascular. Contudo, é de fundamental importância o rastreio de depressão em pacientes com doenças cardiovasculares e de doenças cardiovasculares em pacientes com depressão.