Protagonismo do aluno, (hiper)individualização da aprendizagem e automatização do ensino

Abstract

Este artigo objetiva analisar os discursos do protagonismo do aluno e da centralidade da aprendizagem, impulsionados pelo uso intensivo das tecnologias digitais, a partir do contexto de documentos curriculares oficiais. As abordagens críticas da tecnologia de Selwyn, Castañeda e Feenberg, articuladas com a análise crítica do discurso de Fairclough, são mobilizadas para identificar as ideologias subjacentes a esses discursos. Realiza-se análise textual da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), da Base Nacional Comum para a Formação de Professores da Educação Básica (BNC-Formação) e do Currículo Paulista. Toma-se como pressuposto que a tecnologia e o protagonismo do aluno não são neutros, mas comportam valores e interesses que moldam a ação e os papéis de alunos e professores. A discussão a partir da análise dos documentos oficiais e do referencial teórico desta pesquisa aponta para a redução da educação à aprendizagem centrada no estudante, com outras dimensões da formação negligenciadas. Os resultados desta análise indicam o risco da (hiper)individualização da aprendizagem e o esvaziamento da ação e dos papéis do professor, levando à potencial automatização do processo educativo. Verifica-se que os discursos da valorização da aprendizagem são naturalizados e acabam por ocultar intenções mais gerenciais e econômicas do que didático-pedagógicas.