Abstract
Embora saibamos que a percepção da fala desempenha papel central no desenvolvimento linguístico, sua adoção na teoria fonológica enfrentou resistência teórica e metodológico-tecnológica. Todavia, o interesse pela área tem aumentado por dois motivos principais: o avanço tecnológico das ciências da fala e as tentativas de incorporação de princípios perceptuais a modelos fonológicos tradicionais. Neste artigo, advogamos que o despertar tardio da percepção na fonologia está relacionado ao seu berço colonial e, como consequência, ao modo como algumas teorias/modelos linguísticos cartesianos enxergam e validam o indivíduo e o individual e, por conseguinte, a produção e a percepção da fala, construtos que, em modelos clássicos de fonologia, não se inserem nas definições de língua. A marginalização da percepção está relacionada ao “epistemicídio” (SANTOS, 2019, p. 28) provocado por paradigmas científicos (linguísticos) hegemônicos que tiveram o suporte da privilegiada ciência moderna. Logo, neste trabalho, pretendemos descolonizar a fonologia, fundamentando-nos em uma proposta científica calcada na Complexidade, trazendo à tona uma leitura crítica da dicotomia langue-parole. Na perspectiva adotada neste texto, a gramática fonológica é orientada pelas ações individuais de superfície, e a percepção de suas unidades fônicas torna-se primordial para que seja instanciada.
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