Abstract
O artigo descreve o trabalho musical em uma banda filarmônica portuguesa, com base em anotações etnográficas, entrevista com o diretor musical e interlocução com outros musicistas vinculados a esse tipo de conjunto no Brasil e em Portugal. No diálogo com a literatura, incluem-se concepções de música como ação coletiva e como recurso simbólico na construção de lugar e identidade, além de se dar relevo aos instrumentos e comportamentos como pontos focais para a observação, em pesquisa etnomusicológica e educativo-musical. Descrevem-se as rotinas de ensaio, em que pessoas de diferentes faixas etárias convivem, desenvolvem aprendizagem técnica e constroem repertórios enquanto criam parcerias com outros artistas e tipos de música que atualizam os significados dessa formação tradicional. Duas performances públicas desse conjunto são analisadas em termos que combinam produção de música e práticas de memória e coesão sociais. Considera-se também o paradoxo de um “trabalho amador”, pela diferença de investimentos pessoais de tempo e participação na “vida coletiva” de uma banda, conforme se tenha ou não interesses de profissionalização. E sugere-se a metáfora da “harmonização” para compreender o processo dinâmico – mais que uma estrutura pré-formada – de sustentação de um conjunto musical desse tipo, ao se “lidar com tensões e problemas materiais de música e de trabalho, em sociedade”.