Abstract
O estudo da performance com foco nos aspectos não verbais da prática musical evidencia a existência de elementos sociais que permeiam a atividade musical e os processos de interação entre indivíduos. Essas experiências de engajamento musical, cujas interações físicas podem não se interligar por meio de mediação linguística, flexionam discursos para além de uma camada interpretativa, em que gestos e formas não verbais de comunicação possuem aspectos corporificados diante dos significados atribuídos aos sons musicais. A investigação etnográfica realizada na “cena” do flamenco no sudeste brasileiro demonstrou que as relações sociais por meio da música (BLACKING, 1973), estabelecidas por meio do domínio léxico de elementos não verbais de interação musical, bem como da construção de discursos musicais improvisados em contextos performáticos apresentacionais (TURINO, 2008), possuem uma estreita relação com a construção de uma narrativa fundamentada em um pensamento local de “autenticidade performática”. Esse pensamento, vinculado ao contexto das performances interativas e ao domínio da linguagem musical do flamenco, medeia e estabelece as relações entre seus indivíduos, destacando aspectos de translocalidade, (re)construção de significados e formas particulares de engajamento social. Este artigo busca apresentar, portanto, por meio de excertos etnográficos recolhidos na “cena” do flamenco no Brasil, uma análise sistemática e reflexiva desses elementos não verbais de interação musical, bem como das relações que se estabelecem entre o domínio dessa linguagem e a construção local de um pensamento de “autenticidade performática”.