Abstract
Este artigo investiga manifestações de fictividade linguística em discurso direto e seus diferentes modos de operar discursiva e intersubjetivamente, tendo como base dados reais de fala espontânea do PB, em diatopia mineira. Apoia-se na Linguística Cognitiva, elegendo o conceito de perspectivação conceptual (construal) como guia para a hipótese de que, nas interações face-a-face, falante e interlocutor lançam mão do Frame de Conversa para estruturar a Interação Fictiva (PASCUAL, 2014), em especial o Discurso Direto Fictivo (ROCHA, 2022), como estratégia intersubjetiva argumentativa. A noção de (inter)subjetividade (VERHAGEN, 2005; TRAUGOTT; DASHER, 2005), inerente ao conceito de construal (VERHAGEN, 2005; TALMY, 2000; LANGACKER, 2008), é tomada como codificação explícita ou implícita da atenção por parte do falante ao interlocutor ou convite para que o interlocutor assuma uma determinada perspectiva discursiva, em busca de alinhamento (ALMEIDA, 2019) de pontos de vista. No tocante à metodologia, constituiu-se um banco de dados com base em gravações de fala espontânea em um salão de beleza, situado na cidade de Juiz de Fora (MG). Adotou-se uma abordagem metodológica baseada em corpus (corpus-based) e guiada por corpus (corpus-driven) (MCENERY; HARDIE, 2012; TOGNINI-BONELLI, 2001), possibilitando que o banco de dados norteasse os achados à luz de uma categoria já delimitada. A análise qualitativa evidenciou não apenas manifestações de Interação Fictiva em discurso direto, mas possibilitou identificar diferentes padrões sintáticos atrelados, no uso, a contornos melódicos específicos. Os resultados obtidos atestam a empiria do fenômeno e evidenciam o emprego do Discurso Direto Fictivo como frame atencional, ou janela de atenção, e a mudança de perspectiva como estratégia argumentativa intersubjetiva em prol do alinhamento de pontos de vista entre falante e interlocutor.
Publisher
Universidade Estadual de Campinas
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