Abstract
Apoiado em teorias antropológicas e sociológicas, categorias conceituais e densa etnografia, e numa perspectiva comparativa e intercultural, o objetivo principal do artigo é discutir o processo de mudança religiosa que está em curso na Terra Indígena Sororó (Suruí-Aikewara), no Pará. Com a introdução do protestantismo pentecostal, e utilizando a sua cosmologia animista anterior, a maioria das aldeias, em fase de conversão evangélica, incorpora, ressignifica e cria novas expressões do sagrado. De uma disputa real e simbólica, entre o Pastor e o Pajé, surgiu a categoria êmica de 'índio-crente' e um tipo ideal, no sentido weberiano, que estamos denominando de ‘pentecostalismo indígena'. Com uma lógica comparativa e complementar, discute-se também a etnografia feita com a pajé cunhã-karaí, da etnia Kaingang, em Santa Catarina. Nesses dois contextos indígenas, não ocorre uma ruptura com as cosmologias originais, mas sim uma lógica de correspondência, coabitação de contrários, estratégias de acumulação de diferenciadas lógicas de pensamento, de categorias simbólicas e práticas religiosas. Mesmo constituindo-se como paradigmas distintos, os dois modelos – xamanismo-indígena e cristianismo-pentecostal - estão imbricados numa teia de relações mágico-religiosas, materializadas num evidente hibridismo religioso, numa nova religiosidade sincrética e, na lógica lévi-straussiana, com eficácia de cura, real e/ou simbólica.
Publisher
Pontificia Universidade Catolica de Minas Gerais