Abstract
Quando pensamos, no contexto da Antiguidade Grega, em paradigmas de velhice em versão feminina, a figura mais emblemática é, sem dúvida, Hécuba, a rainha de Troia. Sobre esta figura, a Literatura Grega, no seu conjunto, produziu um retrato que se vai adensando em duas grandes etapas. A visibilidade que lhe é conferida pela épica, tomando por testemunho a Ilíada, é ainda a de uma soberana poderosa, que goza de prestígio junto do marido e dos filhos, e do respeito e simpatia do seu povo, nomeadamente das mulheres que rodeiam a sua vida no palácio. Por sua vez a tragédia fixou-se sobretudo no pós-guerra, dando grande projeção às mulheres de Troia, sobreviventes da guerra para caírem nas mãos do inimigo e se tornarem nas principais vítimas do conflito. Várias dessas mulheres se tornaram padrão da violência da guerra. Mas nenhuma delas reuniu, como Hécuba, o cúmulo do sofrimento feminino: como exemplo de todas as perdas, ápais, ánandros, ápolis (privada de filhos, de marido, de cidade), num momento em que a idade avançada a privava de resistência.
Publisher
Pontificia Universidade Catolica de Minas Gerais