Abstract
Michel de Certeau classifica a linguagem mística como “fábula”, isto é, como algo que precisa ser dito e que constitui uma forma especial de enunciação da experiência histórica; como enunciação, a mística constitui uma “prática de escrita” que pretende redefinir os limites do dizível, do real e do verdadeiro; durante a Idade Média, a escrita mística feminina inseriu as mulheres no campo da historiografia, até então marcadamente masculina, pela qual fabricaram uma linguagem específica de enunciação da vida interior que se apresenta sob a forma de narrativas biográficas. Neste texto, serão estudadas Li Vida de la Benaurada Sancta Doucelina eIl Memoriale di Angela da Foligno produzidas por mulheres da Baixa Idade Média desde a perspectiva da narrativa de memória para entender se e como a linguagem mística engendra novas formas de narrar a história e se essas formas indicam novos caminhos para entendermos as noções de objetividade, subjetividade e alteridade na história e na historiografia ocidental.
Publisher
Sociedade Brasileria de Teoria e Historia de Historiografia