Abstract
Este artigo tem como objetivo analisar discursos de mulheres soropositivas do Brasil e de Portugal, entrevistadas entre 2019 e 2020. Para tanto, parte de uma discussão acerca da biopolítica e da governamentalidade, relacionando-as aos novos materialismos. Inicialmente, o artigo descreve o funcionamento do dispositivo da aids e do dispositivo crônico da aids, tendo em vista suas estratégias fundamentais e as formas de subjetividade que produzem. Depois, faz uma breve apresentação do acontecimento da feminilização da epidemia. Por fim, as análises apontam duas estratégias axiais: a primeira, relacionada à agentividade dos fármacos e à produção de práticas de bioascese; a segunda, ligada às formas de vulnerabilidade implicadas no caráter gendrado da soropositividade. Nos dois casos, inventaria-se tanto um discurso ambíguo, ora de responsabilização, ora de abandono da vida soropositiva, em que se pese o papel da disciplina e da segurança, quanto uma agonística entre um controle pelo poder e práticas de invenção de si nos espaços de precariedade em que se reinscrevem.