Abstract
O tratamento dos tumores do Sistema Nervoso Central apresenta peculiaridades próprias, que diferem da rotina de conduta terapêutica dos demais blastomas. A grande maioria dos tumores primitivos do S.N.C. que, embora pelo critério histopatológico estrito possam ser chamados de benignos, na realidade atuam como tumores malignos em relação ao seu hospedeiro, causando-lhe a morte. Desenvolvendo-se os tumores do S.N.C. em caixa óssea praticamente fechada, condicionam um aumento da pressão intracraneana, com interferência na circulação do líquido céfalo-raqueano, conduzindo a uma compressão de todo o encéfalo ou de vários de seus componentes. As modificações locais e gerais produzidas pelo crescimento do tumor, com edema local, modificações vasculares, gliose secundária e necrose, com compressão dos pares craneanos e atrofia nervosa, que são causadas pelo desenvolvimento da neoplasia, por vezes são atribuídas erroneamente ao tratamento cirúrgico ou radioterápico da neoplasia. A importância clínica do dano ao tecido nervoso adjacente a uma neoplasia, varia consideravelmente, de acordo com a localização do tumor, seu volume e tipo de evolução. A ausência de linfâticos do S.N.C. e a raridade de invasão dos vasos sanguíneos cerebrais pela neoplasia, explica a pouca frequência de metástases à distância nos tumores primitivos do S.N.C. Quando estas se produzem, são geralmente por disseminação ao longo dos espaços céfaloraqueanos, o que orienta a terapêutica em determinados tipos de tumor. A impossibilidade de abordamento cirúrgico de determinadas estruturas cerebrais, como região do tronco, hipotâlamo e as dificuldades de ser efetuada uma cirurgia radical com extirpação completa do tumor, levaram à complementação radioterápica em alguns casos, e indicação exclusiva em outros. A associação com radioterapia, inicialmente, não foi muito entusiástica, pela idéia antiga baseada na histologia, de ser a célula nervosa altamente resistente à irradiação, e os métodos da RT convencional não permitirem doses mais elevadas de radiação. Nos últimos anos, os trabalhos de vários autores, salientando-se os de BOUCHARD (McGill University — Montreal) e os dos grupos da Mayo Clinic, Columbia Presbyterian Medical Center, USA, e de Paillas, Marselha, demonstram que em grupos comparados de cirurgia exclusiva e cirurgia associada à radioterapia, esta melhorou bastante o prognóstico e sobrevida dos pacientes com tumores cerebrais. Desta maneira, a sobrevida de 5 anos dos astrocitomas tratados só por CIR., que davam uma média de 16-20%, passou a ser de 49% nas mãos de BOUCHARD, com a complementação por RT. Tumores do tronco cerebral, que eram abandonados à própria sorte, pela impossibilidade do ato operatório, têm hoje a possibilidade de sobrevida de 5 anos, pela Radioterapia, em 40% dos casos (BOUCHARD).
Publisher
Revista Brasileira De Cancerologia (RBC)