Affiliation:
1. Unidade Local de Saúde de São João
2. Unidade Local de Saúde de Viseu Dão Lafões
Abstract
A aplasia eritrocitária pura (PRCA) associada à infeção por parvovírus B19 (PVB19) é um importante diagnóstico a considerar em recetores de transplante renal (TR) que se apresentam com anemia persistente, nos quais outras etiologias foram excluídas. A gestão desses doentes representa um desafio, uma vez que a redução da imunossupressão (IS) para tratar a infeção vírica deve ser cautelosa pelo potencial aumento do risco de rejeição do aloenxerto. Os autores descrevem um caso de um homem de 43 anos com antecedentes de doença renal crónica de etiologia indeterminada que foi submetido a TR de um dador falecido após morte circulatória em janeiro de 2021. No primeiro ano pós-TR, o paciente foi internado repetidamente devido a PRCA associada ao PVB19 e necessitou de transfusões de glóbulos vermelhos e tratamento com imunoglobulina humana intravenosa (IVIG). A IS foi inicialmente ajustada com suspensão do micofenolato de mofetil (MMF) e posteriormente alterada para um esquema TRANSFORM com prednisolona, tacrolimus e everolimus. Devido ao agravamento da função renal, foi realizada uma biópsia renal que revelou rejeição aguda mediada por células T borderline com sinais significativos de cronicidade (50% de fibrose intersticial e atrofia tubular). Para garantir o controlo da infeção, a IS não foi aumentada. Considerando a recorrência da PRCA associada ao PVB19 apesar do uso de um esquema IS TRANSFORM num paciente com disfunção crónica do aloenxerto e alto risco imunológico, foi iniciada terapêutica de manutenção com IVIG (0,4 mg/kg) a cada 4 semanas. Após 9 meses de tratamento não foi identificada nenhuma recidiva. De forma a promover uma prescrição individualizada de IS, um ImmunoBiogram® foi recentemente realizado, estando a ser considerada uma redução da IS que potencialmente permitirá a suspensão da terapia de manutenção com IVIG. O diagnóstico e tratamento da PRCA associada ao PVB19 são desafiadores. Relativamente à doença recidivante, o tratamento prolongado com IVIG parece ser útil, mas mais estudos são necessários para estabelecer o seu papel. Também é fundamental adaptar, tanto quanto possível, a IS ao perfil imunológico individual dos doentes para prevenir o uso excessivo de imunossupressão.
Publisher
Associacao Brasileira de Transplantes de Orgaos